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Mostrando postagens de maio, 2015

Amar você é coisa de minutos - Paulo Leminski.

Amar você é coisa de minutos A morte é menos que teu beijo  Tão bom ser teu que sou  Eu a teus pés derramado  Pouco resta do que fui  De ti depende ser bom ou ruim  Serei o que achares conveniente  Serei para ti mais que um cão  Uma sombra que te aquece  Um deus que não esquece  Um servo que não diz não  Morto teu pai serei teu irmão  Direi os versos que quiseres  Esquecerei todas as mulheres  Serei tanto e tudo e todos  Vais ter nojo de eu ser isso  E estarei a teu serviço  Enquanto durar meu corpo  Enquanto me correr nas veias  O rio vermelho que se inflama  Ao ver teu rosto feito tocha  Serei teu rei teu pão tua coisa tua rocha  Sim, eu estarei aqui  Paulo Leminski. 

Parada cardíaca - Paulo Leminski.

Parada cardíaca Essa minha secura essa falta de sentimento não tem ninguém que segure,  vem de dentro.  Vem da zona escura  donde vem o que sinto.  Sinto muito,  sentir é muito lento.  Paulo Leminski.

O que quer dizer - Paulo Leminski.

O que quer dizer diz.  Não fica fazendo  o que, um dia, eu sempre fiz.  Não fica só querendo, querendo,  coisa que eu nunca quis.  O que quer dizer, diz.  Só se dizendo num outro  o que, um dia, se disse,  um dia, vai ser feliz.  Paulo Leminski.

Dor elegante - Paulo Leminski.

Dor elegante Um homem com uma dor É muito mais elegante Caminha assim de lado  Com se chegando atrasado  Chegasse mais adiante  Carrega o peso da dor  Como se portasse medalhas  Uma coroa, um milhão de dólares  Ou coisa que os valha  Ópios, édens, analgésicos  Não me toquem nesse dor  Ela é tudo o que me sobra  Sofrer vai ser a minha última obra  Paulo Leminski.

Bem no fundo - Paulo Leminski.

No fundo, no fundo,  bem lá no fundo, a gente gostaria  de ver nossos problemas  resolvidos por decreto  a partir desta data,  aquela mágoa sem remédio  é considerada nula  e sobre ela — silêncio perpétuo  extinto por lei todo o remorso,  maldito seja quem olhar pra trás,  lá pra trás não há nada,  e nada mais  mas problemas não se resolvem,  problemas têm família grande,  e aos domingos  saem todos a passear  o problema, sua senhora  e outros pequenos probleminhas.  Paulo Leminski.

Voláteis - Paulo Leminski.

Voláteis Anos andando no mato, nunca vi um passarinho morto, como vi um passarinho nato.  Onde acabam esses voos?  Dissolvem-se no ar, na brisa, no ato?  São solúveis em água ou em vinho?  Quem sabe, uma doença dos olhos.  Ou serão eternos os passarinhos?  Paulo Leminski.

Um bom Poema - Paulo Leminski.

Um bom poema  leva anos cinco jogando bola, mais cinco estudando sânscrito, seis carregando pedra, nove namorando a vizinha, sete levando porrada, quatro andando sozinho, três mudando de cidade, dez trocando de assunto, uma eternidade eu e você, caminhando junto. Paulo Leminski.

Objeto do meu mais desesperado desejo - Paulo Leminski.

Objeto do meu mais desesperado desejo, não seja aquilo por quem ardo e não vejo. Seja a estrela que me beija, oriente que me reja, azul, amor, beleza. Faça qualquer coisa más pelo amor de Deus  ou de nós dois Seja. Paulo Leminski.

Eu queria tanto ser um Poeta - Paulo Leminski.

Eu queria tanto  ser um poeta maldito. A massa sofrendo enquanto eu profundo medito. Eu queria tanto  ser um Poeta social. Rosto queimado pelo hálito das multidões. Em vez olha eu aqui pondo sal  nesta sopa rala que mal vai dar para dois. Paulo Leminski.

Litogravura - Paulo Leminski.

Litogravura Mão de estátua. Tempo, Coluna. Arco de Triunfo.  Mil duzentos e cinquenta.  Qualquer pedra na Europa  é suspeita de ser  mais do que aparenta. Felizes as pedras da minha terra  que nunca foram senão pedras.  Pedras, a lua esfria  e o sol esquenta. Paulo Leminski.

Asas e Azares - Paulo Leminski.

Asas e Azares Voar com asa ferida?  Abram alas quando eu falo.  Que mais foi que fiz na vida?  Fiz, pequeno, quando o tempo  estava todo do meu lado  e o que se chama passado,  passatempo, pesadelo,  só me existia nos livros.  Fiz, depois, dono de mim,  quando tive que escolher  entre um abismo, o começo,  e essa história sem fim.  Asa ferida, asa ferida,  meu espaço, meu herói.  A asa arde. Voar, isso não dói.  Paulo Leminski.

Rumo ao sumo - Paulo Leminski.

Rumo ao sumo  Disfarça, tem gente olhando. Uns, olham pro alto,  cometas, luas, galáxias.  Outros, olham de banda,  lunetas, luares, sintaxes.  De frente ou de lado,  sempre tem gente olhando,  olhando ou sendo olhado.  Outros olham para baixo,  procurando algum vestígio  do tempo que a gente acha,  em busca do espaço perdido.  Raros olham para dentro,  já que dentro não tem nada.  Apenas um peso imenso,  a alma, esse conto de fada.  Paulo Leminski.

O amor, esse sufoco - Paulo Leminski.

O Amor, esse sufoco, agora pouco era muito, agora, apenas um sopro. Ah, troço de louco, coração trocando rosas e socos. Paulo Leminski.

Amor, então também acaba? - Paulo Leminski.

Amor, então,  também, acaba? Não, que eu saiba. O que sei  é que se transforma numa matéria prima que a vida se encarrega de transformar em raiva. Ou em rima. Paulo Leminski.